"Ela abraçou, com um sorriso
Como se abrisse uma porta
Um vento frio sopra, põe um calafrio no coração dela..." (Restless - Within Temptation)
Caminhávamos lado a lado pelas ruelas daquela cidade imunda, o cheiro da pobreza se tornava agora mais forte do que antes, eu queria fazer várias perguntas, mas me faltava coragem, aquele homem apesar de salvar tinha a aparência de um ser muito rude e agressivo e sentia que a
qualquer deslize de minha parte ele me arrancava a garganta e então preferi ficar em silencio, era o melhor a se fazer naquele momento. Faltavam apenas algumas horas para amanhecer o dia quando avistamos um velho senhor recolhendo alguns restos de lixo, meu mestre parou e ficou observando aquele trapo humano que arrastava um cobertor imundo, apesar da distancia que mantínhamos do homem eu podia sentir seu fedor insuportável de urina, olhei para meu mestre e nos seus olhos pude ver o que pensava, senti meu estomago revirar, pensei em recuar, mas não tinha como, ele me fez um sinal para que ficasse ali e disse:
- Minha criança, veja isso como um favor que faremos a ele, a qualquer momento ele morrerá congelado, ou algum grupo de jovens bêbados acabarão o espancando.
Fiz um sinal de consentimento com a cabeça e fiquei observando ele se aproximar daquele homem que distraído não percebeu quando meu mestre se chegou por trás dele e apenas com pequenos movimentos rendeu aquele homem que tentava se livrar dos braços dele, meu mestre o sugava com vontade e quando se deu por satisfeito, fez um sinal com a mãe me convidando a me deliciar com o sangue daquele velho, me aproximei o cheiro do sangue já tomava conta de minhas narinas e o frenesi voltou quando comecei a sugar aquele sangue escarlate que jorrava pelas feridas feitas por Hanzi, sugava com muita vontade, matava minha sede, até que meu mestre fez sinal para que eu parasse, fiquei em pé a sua frente e em um gesto delicado ele secou uma gota que escorria de meus lábios e levou até sua boca e disse:
- Boa menina! Agora nos iremos que já está tarde, mas antes nos livraremos desse pobre coitado, não podemos deixá-lo aqui entregue a sua própria sorte, ou falta dela, não é mesmo minha pequena?
- Sim mestre! Concordei com uma voz baixa e um movimento com a cabeça!
Caminhamos até um rio que passava ali perto, meu mestre atirou o corpo do velho e percebi que ele sorria, senti um arrepio percorrendo minha espinha.
Chegamos a uma casa no fim da rua, uma enorme casa, parecia até um castelo, os portões se abriram como mágica, nos convidando a entrar, uma casa tão linda que eu não conseguia acreditar que era real, sua arquitetura era bem antiga, me lembrava as casas descritas na antigas historias romanas tinha um enorme jardim que mesmo um pouco apagado por causa do inverno era belo, tinha também uma fonte com três pequenos anjos em volta, aqueles anjos me encantaram de uma forma que não pude explicar, eu quase podia escutar os coraçõezinhos deles batendo. Cruzamos o imenso jardim passando pela linda fonte até chegarmos às escadas que levavam a porta da casa, uma mansão branca que tinha outras duas fontes pequenas uma de cada lado da entrada e cada uma delas tinha um anjo de cabelos que iam até os ombros eram seres andrógenos o que me levou a pensar em anjos, parei e fiquei observando por alguns instantes até que meu mestre disse:
- São belos, não são?
- Maravilhosos! Exclamei com uma voz que não tinha como esconder minha fascinação!
- Venha, você irá conhecê-los em breve!
Eu não conseguia entender bem o que meu mestre queria dizer com aquilo, mas não consegui dizer mais nada, apenas o segui até dentro da linda casa, e logo ouvi passos e logo aquela sala que nos encontrávamos se encheram de anjos, sim os mesmo anjos que eu vira lá fora agora estavam ali todos faziam festas ao verem meu mestre que pelo que percebi também era mestre daquelas criaturas, meu mestre pediu que se acalmassem, elas olhavam estranhamente para mim.
-Acalmem – se minhas crianças, essa é Victoria Keat, ela agora faz parte da nossa família, vocês agora têm uma nova irmã e precisam ajudá-la a se vestir e a se comportar como uma de vocês.
Eu não conseguia acreditar, minha vida tinha mudado de uma forma tão rápida eu não conseguia entender como tudo aquilo estava acontecendo, eu tinha uma família? Anjos como irmãos?
- Mestre eles são os anjos que vi lá fora? Perguntei inocentemente
Apenas obtive risos como resposta, até que um deles percebendo que eu havia me sentido mau com a atitude deles, resolveu me responder.
- Anjos? Você acha mesmo que somo anjos? Não somos anjos minha querida, somo criaturas das trevas, matamos para nos alimentar, roubamos a vida humana para nos mantermos vivos, somos as piores criaturas que habitam esse mundo, somo vampiros.
Senti uma tristeza enorme me invadindo, meus anjos não passavam de demônios, seres assim como eu amaldiçoados, agora eu entendia por que eram meus irmãos, e única coisa que poderiam me ensinar era a matar, a roubar a vida de seres vivos que cruzassem meu caminho na escuridão das trevas.
Meu mestre ordenou que alguns daqueles anjos me levassem e me preparassem para descansar, fui levada até um enorme quarto, ou pelo menos era o que parecia me despiram e me levaram até uma banheira e me deram banho e me deram roupas novas, me vestiram com gracioso vestido azul marinho, me calçaram com sapatos que nunca antes havia sonhado em calçar, me sentia como uma dama da sociedade me penteou os cabelos, eu estava maravilhosamente linda, e depois de estar pronta me conduziram até uma discreta porta que havia ali naquele enorme quarto, uma pequena portinha que foi aberta por um daqueles "Anjos", fui convidada a adentrar por ali e fui seguida por meus agora irmãos, percebi que conforme ia entrando mais escuro aquela câmara ia ficando, avistei alguns caixões, na verdade era o que parecia ser, apesar de bem maiores e aparentemente pesados que os caixões normais, pensava que caixões apenas faziam parte das lendas sobre vampiros, na verdade pensava que aquilo tudo que estava vivendo existia apenas nas lendas, havia um caixão que ficava ao meio, ele se destacava entre os demais, era muito bonito tinha alguns detalhes em dourado, era notavelmente feito de um material muito caro, julguei ser de meu mestre, fiquei alguns segundos observando aqueles caixões, achei tudo aquilo muito estranho e bonito, até que um dos anjos que estava ao lado de um caixão que ficava próximo ao do meio falou comigo:
- Venha, este aqui é o seu, deite - se você precisa descansar, e já está amanhecendo, logo tudo aqui estará inundado de luz solar.
- Eu terei de dormir nesse caixão?
O caixão era assim como o que eu julgara ser de meu mestre, muito bem feito, não era como caixões que costumava ver em enterros, mas mesmo assim me assustou o fato de dormir em um caixão. Eu estava morta? Não me sentia morta, não queria dormir em um caixão, mas resolvi não contestar, já sentia meu corpo cansado e mais por medo daqueles anjos, do que por qualquer outra coisa acabei seguindo as ordens, mas antes de me deitar fiz uma pergunta a aquele anjo lindo que me esperava na beira do caixão:
- Você ainda não me disse quem é, como se chama?
- Me nome é Pablo, sou o filho mais velho de Hanzi, faz quase quatro séculos que o acompanho pelas trevas, mas deixemos essa conversa para amanha minha cara Victoria.
Entrei ainda um pouco assustada naquele caixão, deitada ali sozinha comecei a pensar em tudo que havia acontecido naquela madrugada fria de São Paulo, onde eu de pobre jovem sem família passara a ser uma criatura das trevas, rodeada de outras criaturas semelhantes a mim, eu tinha uma nova família, nada convencional, mas era uma família e eu estava feliz, e com esses pensamentos adormeci.








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